O RECURSO A PROGRAMAS DE LEITURA DE ECRÃ NO CONTEXTO DA DISLEXIA
A utilização de software adequado às necessidades desta população pode, sem dúvida, minorar bastante as suas dificuldades na produção de documentos escritos. Neste contexto enquadram-se diferentes softwares que têm como denominador comum a utilização de um sintetizador de voz que permite a leitura dos textos. Este tipo de programas promove a autonomia, permitindo a auto correção do texto produzido.
O uso deste tipo de Software permite que estes jovens efetuem autonomamente a correção dos seus textos após a leitura dos mesmos, evitando assim a exposição ao erro junto dos seus pares, o que contribui positivamente para a sua autoconfiança. É neste contexto que surge a utilização do software "WordRead" disponível no Centro de Recursos para Inclusão Digital (CRID) do IPL. O WordRead é um programa que utiliza a síntese de voz para transformar um texto em fala, sendo um programa de leitura de ecrã. Os textos podem ser lidos em tempo real ou guardados em formato de som, para poderem ser ouvidos posteriormente.
Este programa pode ser utilizado para verificar a integridade de qualquer documento Microsoft Word, lendo "em voz alta" um documento acabado de criar ou um documento já existente. Inclui um sintetizador em Português europeu, de elevada qualidade (voz RealSpeak Madalena). O WordRead lê também qualquer texto proveniente de muitos outros processadores de texto, programas de correio eletrônico, alguns ficheiros PDF e programas de navegação na Internet. Pode ser utilizado como ferramenta de apoio à aprendizagem da leitura e escrita, ou como tecnologia de apoio à interação entre pessoas com dificuldade em comunicar através de voz.
Tem sido instalado nos computadores pessoais dos estudantes com dislexia do IPL, contribuindo para uma reforço da sua auto-confiança e sentimento de competência.
Para além deste apoio com recurso às TIC , o SAPE tem direcionado a sua intervenção para as estratégias de suporte e aconselhamento. Preconizamos uma correta devolução da informação com um envolvimento dos diversos intervenientes (estudantes e docentes), de forma a que se adaptem atitudes mais esclarecidas e não se gerem dúvidas, receios, ansiedades ou expectativas mal geridas, sobretudo para quem se depara com um diagnóstico de Dislexia após a entrada no Ensino Superior.
Estas estratégias concretizam-se, então, em recomendações que os professores podem adaptar em sala de aula, as quais facilitarão a aprendizagem e sucesso escolar dos estudantes disléxicos. Para tal, há que ter em conta uma visão holística do estudante, atendendo ao seu perfil cognitivo, estilo e ritmo de aprendizagem. Só assim se poderão identificar corretamente as suas necessidades e intervir em consonância (Reid, 1998).
Como estratégias complementares das medidas anteriores, destacamos a importância de "fomentar" o gosto pela leitura e pela escrita, promovendo bons hábitos de leitura, desenvolvendo a leitura compreensiva, incentivando o uso do dicionário e procurando melhorar os períodos de atenção, bem como desenvolver a leitura compreensiva.
O fato de aliarmos as TIC às estratégias de intervenção a nível emocional prende-se com o objetivo principal de promover a independência do estudante. Smythe (2005) refere que os estudantes disléxicos poderão ganhar confiança e determinação na realização de tarefas que seriam assustadoras sem uma assistência tecnológica: adequada. De qualquer modo, parece importante haver mais investigação relacionada com as várias necessidades individuais dos estudantes disléxicos a este nível.
Relativamente à eficácia da intervenção, na globalidade, a literatura refere que os resultados são díspares. Contudo é possível afirmar que o treino intensivo e estruturado, combinação de diferentes métodos e uma duração temporal alargada da intervenção, são alguns fatores que poderão contribuir para a sua maximização (Hatcher Snowling & Griffiths, 2002, Jamieson & Morgan, 2008, Reid, 1998, Richardson & Wydell, 2003).
Conclusão e implicações para o futuro
Não se registrando uma posição convergente quanta à etiologia, sintomatologia ou tipo de reeducação a efetuar no âmbito da dislexia, importa então, segundo Pereira (1995), salientar a necessidade de urna análise multivariada e contextual, baseada numa visão multidisciplinar.
Embora a atenção prestada a estudantes disléxicos tenha aumentado na última década (Gilroy et ai, 1996, citados por Hatcher, Snowling & Griffiths, 2002), sente-se uma necessidade crescente de desenvolver conhecimento sobre a dislexia e as diferentes formas como afeta os estudantes.
Em termos de implicações para o futuro, parece-nos fundamental a aplicação de um instrumento que permita o despiste de eventuais quadros de Dislexia, contribuindo assim para conhecer melhor a realidade dos estudantes que frequentam o IPL, bem como a definição de um protocolo de avaliação adequado à população em questão. Parece-nos pertinente também desenvolver um guia orientador para estudantes e docentes sobre como lidar com a Dislexia no ES, ponderando-se a possibilidade de criação um grupo de apoio. Também será necessário aprofundar a avaliação da eficácia da utilização das TIC/ e-learning na intervenção com estudantes com Dislexia no ES.
Seguindo as orientações da Association of Dyslexia Specialists in Higher Education (ADHSE) (2002) é fundamental que todos os estudantes tenham acesso às mesmas medidas de apoio independentemente da instituição frequentada, promovendo-se assim a igualdade de oportunidades.
Em síntese, e de acordo com Richardson & Wydell (2003), a Dislexia poderá ter consequências na progressão, realização e conclusão do ensino superior, mas não é incompatível com um elevado nível de sucesso, desde que suportada por uma intervenção ajustada a este diagnóstico e ao perfil de cada estudante.
Fonte: www.welshdyslexia.info/minerva/book.pdf
terça-feira, 13 de outubro de 2009
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