terça-feira, 13 de outubro de 2009

AVALIAÇÃO e INTERVENÇÃO na DISLEXIA /ENSINO SUPERIOR

AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NA DISLEXIA EM ESTUDANTES NO ENSINO SUPERIOR

Face ao crescente número estudantes com Dislexia no ES, tem aumentado também a preocupação com a variabilidade de critérios utilizados e dos instrumentos de avaliação utilizados para identificação dos estudantes com esta problemática (Ridell & Weedon, 2006).
Em relação a este domínio, é interessante como os estudantes que procuram o SAPE apresentam uma reação, também descrita na literatura, pensando que uma avaliação da Dislexia constitui um processo rápido, o que de fato não se verifica. Na realidade, ficam frequentemente surpreendidos com o tempo de duração dos procedimentos de avaliação, os quais procuramos que sejam o mais completo possível, ainda que não existam instrumentos de avaliação de Dislexia em adultos, devidamente validados e aferidos para a população portuguesa. Neste âmbito, o Relatório "Assessment of Dyslexia, Dyspraxia, Dyscalculia and Attention Deficit Disorder (ADD) in Higher Education - SpLD Working Group 2005/DfES Guidelines" elaborado e publicado em 2005 (disponível em www.patoss-dyslexia.org/) pretende ser um guia para a avaliação destas dificuldades nos estudantes do ES e, também, uma manifestação sobre o que é considerado um critério aceitável para quem avalia. Este documento esclarece critérios de diagnóstico, bem como os testes que deverão ser utilizados por profissionais altamente qualificados.
A este respeito e porque a avaliação é altamente consumidora de tempo, já começam a existir instituições do ES que recorrem a algumas formas de despiste (screening) para identificar quem deve ser alvo de avaliação. Pode ter a forma de entrevista estruturada ou uma breve avaliação por computador. São vários os exemplos de instrumentos de despiste, dos quais destacamos o Questionário História de Leitura (QHL), adaptado para a população portuguesa por Alves & Castro (2004).
Uma vez realizada a avaliação importa implementar as estratégias delineadas, devendo ter-se em conta que quando a dislexia é diagnosticada em indivíduos já depois da segunda década de vida ou ainda mais tarde, uma resposta emocional comum pode ser o alívio acompanhado de zanga com os pais, antigos professores e/ou o sistema escolar. De qualquer modo o rótulo "Dislexia" requer algum tempo e apropriação do conhecimento, a compreensão e aceitação do diagnóstico (Jamieson & Morgan, 2008).
Relativamente às modalidades de intervenção, as mais eficazes e frequentemente adotadas encontram-se centradas., de um modo geral, no treino de competências lingüísticas, não só ao nível da descodificação (para os níveis iniciais de escolaridade) mas, também ao nível da compreensão (numa fase escolar mais avançada). No entanto, em alguns casos, o treino de competências psicomotoras e visoperceptivas também poderá ser útil.
Habitualmente, distinguem-se três categorias as quais devem, sempre que possível, funcionar de modo articulado: os programas individualizados, as estratégias de suporte e aconselhamento e o ensino assistido. Relativamente aos programas individualizados, (Sanson, 2002) considera que as técnicas devem incluir: (l) um ensino multisensorial; (2) repetição; (3) elogio quando os estudantes são bem sucedidos e evitando colocá-los em situações nas quais se sabe de antemão que estão votados ao fracasso e (4) utilização de computadores como forma de superação da habitual dificuldade em produzir textos, podendo o potencial das tecnologias de informação ser explorado de forma a melhorar o rendimento dos alunos disléxicos.
Por este motivo, no SAPE, procuramos implementar um conjunto de exercícios delineados num programa individualizado de base predominantemente fonética estruturado após análise "funcional" da leitura. Este programa recorre a técnicas de treino fonológico como, por exemplo, a identificação, discriminação e transposição de fonemas e a segmentação silábica, procurando a resolução de um conjunto de exercícios que implicam a repetição com vista à automatização.
Neste "Programa" são também enfatizadas as questões relacionadas com a vertente compreensiva, sendo utilizado o método PLEMA (Pré-Leitura, Leitura, Esquematização; Memorização e Avaliação) (Serafini, 1991) e com a implementação de estratégias de estudo adequadas ao perfil de aprendizagem.
Reiterando Jamieson & Morgan (2008), com o avanço das Tecnologias e Informação e Comunicação (TIC) registra-se um aumento e uma melhoria de software e hardware de grande valor e potencial para os disléxicos.
Por exemplo, programas de leitura de ecrã podem ser usados para melhorar as competências de leitura, acompanhado da possibilidade dos estudantes ouvirem o que escreveram. Como esta é uma estratégia multissensorial envolvendo a visão e audição simultânea do texto, poderá ser uma mais valia para a identificação e correção de erros.
Há diversos programas informáticos desenhados especificamente para estudantes disléxicos (para mais informações http://www.dyslexic.com/). A este respeito não só é importante conhecer a complexidade dos sistemas, software e hardware, mas também a diversidade das competências humanas bem como as suas preferências de aprendizagem para cada situação (Jamieson & Morgan, 2008, Smythe, 20(5).

Referência Bibliográfica

Alves, Rui, Castro, São (2004) Despistagem da dislexia em adultos através do Questionário História de Leitura. 2 Congresso Hispano-Portugues de Psicologia. Lisboa, IberPsicologia.

Pereira, Marcelino (1990) Contributo para um Estudo Psico-Sociolinguistico da Dislexia-Disortografia. Dissertação de Mestrado. Coimbra, Universidade de Coimbra.

Pereira, Marcelino (1995) Dislexia-Disortografia numa perspectiva psico-sociolinguística. Lisboa, Fundação Calouse Gulbenkian.

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