sábado, 2 de outubro de 2010

HISTÓRICO / DISLEXIA

HISTÓRICO / DISLEXIA
O primeiro trabalho sobre dislexia foi citado em 1872, por Reinhold Berlin, seguido por James Kerr em 1897. James Hinshelwood, em 1917, publicou uma monografia sobre “Cegueira Verbal Congênita”, que encontrara pacientes com inteligência normal e com dificuldade para aprender a ler e escrever. Nesta época, a visão era de que esse problema seria orgânico e, possivelmente hereditário, sendo o predomínio maior em meninos, do que em meninas.
No início do século XX, os psicólogos e educadores deram pouca importância aos transtornos específicos da linguagem, se concentravam apenas no aspecto pedagógico do problema. Ao mesmo tempo, a classe médica negligenciava o problema na sala de aula, o que contribuía para estabelecer uma grande lacuna entre a recuperação das crianças e o seu problema.
Através de uma pesquisa realizada em unidades de saúde mental, nos Estados Unidos, em meados de 1925, mostrando a dificuldade de ler, escrever e soletrar se constituíam nas causas mais freqüentes dos encaminhamentos realizados. E foi a partir daí, que vários autores, começaram a estudar e descrever o distúrbio. Oftalmologistas, norte-americanos, ajudaram a identificar o distúrbio, alegando que: “Não são os olhos que lêem, mas o cérebro”.
Orton, entre 1928 e 1937, estudou famílias de disléxicos e encontrou algumas alterações, como escrita em espelho, e chamou a atenção para o aspecto genético. Sugeriu que o fenômeno era provocado por imagens competitivas nos dois hemisférios cerebrais devido a falência em estabelecer dominância cerebral unilateral e consistência perceptiva. Seguiram-se a ele vários outros estudiosos interessados no assunto. (Rotta, 2006)
Em continuação aos estudos de Orton, que atribuía a causa do problema a distúrbios de dominância lateral, encontramos Penfield e Roberts (1959), Zangwill (1960), Sperry (1964), Masland (1967), Miklebust (1954 - 1971) e atualmente Albert Galaburda, que descreveu a dislexia de forma mais complexa.
Na França há trabalhos de Varlot e Deconte (1926) e Ombredama (1937), mas não tiveram continuidade. No campo da linguagem escrita aparecem Borel Maysony, Arlet Boucier e outros. Atualmente, Jacques Melher.
Hoje, os estudos mais recentes estão no campo psiconeurológico. O Brasil também tem sua contribuição com a pesquisa sobre "A diferença dos volumes dos lobos temporais direito e esquerdo".
No Brasil foi criada, no ano de 1983, a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), com o objetivo de esclarecer, divulgar, ampliar conhecimentos e ajudar os disléxicos em sua dificuldade específica de linguagem. Se a dislexia for diagnosticada e tratada adequadamente, o paciente pode ter melhora de até 80%.
Condemarim (1986), expressa seu pensamento sobre dislexia dizendo que é um conjunto de sintomas reveladores de uma disfunção parietal (o lobo do cérebro onde fica o centro nervoso da escrita), geralmente hereditário, ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leitura num contínuo que se estende do leve sintoma ao severo. É freqüentemente acompanhada de transtorno na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática e redação.
Conforme ressalta Myklebust (1987), a dislexia representa um déficit na capacidade de simbolizar, começa a se definir a partir da necessidade que tem a criança de lidar receptivamente ou expressivamente com a representação da realidade, ou antes, com a simbolização da realidade, ou poderíamos também dizer, com a nomeação do mundo.
Segundo um levantamento feito pela Associação Brasileira de Dislexia (ABD), em média 40% dos casos diagnosticados na faixa mais crítica, entre 10 a 12 anos, são de grau severo, 40% são de grau moderado e 20% de grau leve.
Atualmente observasse um fenômeno de “vulgarização”/generalização do termo dislexia, qualquer distúrbio de linguagem apresentado pela criança, logo é qualificado como dislexia, tanto pelos pais como pela escola. O problema nem sempre está na criança e sim nos processos educacionais, sob a responsabilidade familiar, ou nos processos formais de aprendizagem, sob incumbência da instituição escolar. Além dos problemas de ensinagem, temos também a alfabetização precoce, cada vez mais as crianças estão menos prontas para iniciar o processo e são identificadas dificuldades de aprendizagem que, na realidade, não existem.
Segundo Rotta (2006), a década de 1990 foi pródiga em trabalhos que tentavam desvendar os aspectos genéticos envolvidos na dislexia. Por outro lado, inúmeros autores, utilizando-se de exames complementares, provaram a possibilidade de malformações ou alterações funcionais cerebrais em crianças disléxicas.
A definição mais utilizada, segundo a ABD é a de 1994 da International Dyslexia Association (IDA): “Dislexia é um dos muitos distúrbios de aprendizagem. É um distúrbio específico de origem constitucional caracterizado por uma dificuldade na decodificação de palavras simples que, como regra, mostra uma insuficiência no processamento fonológico. Essas dificuldades não são esperadas com relação à idade e a outras dificuldades acadêmicas cognitivas; não são um resultado de distúrbios de desenvolvimento geral nem sensorial. A dislexia se manifesta por várias dificuldades em diferentes formas de linguagem freqüentemente incluindo, além das dificuldades com leitura, uma dificuldade de escrita e soletração.”
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV (1995) caracteriza a dislexia como comprometimento acentuado no desenvolvimento das habilidades de reconhecimento das palavras e da compreensão da leitura. O diagnóstico é realizado somente se esta incapacidade interferir significativamente no desempenho escolar ou nas atividades da vida diária (AVD’s) que requerem habilidades de leitura. A leitura oral no disléxico é caracterizada por omissões, distorções e substituições de palavras e pela leitura lenta e vacilante. Neste distúrbio, a compreensão da leitura também é afetada.
Fonseca (1995), coloca que a dislexia trata-se de uma desordem (dificuldade) manifestada na aprendizagem da leitura, independentemente de instrução convencional, adequada inteligência e oportunidade sócio-cultural. E, portanto, dependente de funções cognitivas, que são de origem orgânica na maioria dos casos.
Lima (2002), enfatiza que todo processo de aprendizagem está articulado com a história de cada indivíduo, e o ser humano aprende mais facilmente quando o novo pode ser relacionado com algum aspecto da sua experiência prévia, com o conhecimento anterior, com alguma questão que o indivíduo se colocou, com imagens, palavras e fatos que estão em sua memória, com vivências culturais.
Ao que parece, por trás desses problemas específicos de aprendizagem, existe sempre um fator biológico, hereditário, isto é, há uma disposição natural de a mesma dificuldade ocorrer em outros membros da família. Coll (1995), descreve isso dizendo que quando falamos de problemas de linguagem, não podemos nos esquecer de buscar no ambiente social da criança todos os dados que nos permitam compreender melhor as dificuldades que esta apresenta.
A neurologista inglesa Guinevere Éden, do Centro de Investigação Neurológica de Georgetown, fez uma pesquisa com cérebros de disléxicos na qual ela constatou que uma das características comuns às crianças disléxicas é a dificuldade em reconhecer em que direção os objetos se movem. Por meio de exames de ressonância magnética funcional, foi possível verificar que o cérebro de um portador de dislexia é anatômico e fisiologicamente diferente de uma pessoa que não sofre do distúrbio. De acordo com ela, ficou claro que o hemisfério direito do cérebro, não relacionado à linguagem, apresenta maior atividade do que o esquerdo. Para superar essa condição é preciso aprender como compensá-la. (Fonte: http://www.medsys.com.br/ultimas_not/noticias.php?cd_noticia=577)
Em 2003, o Annals of Dyslexia, elaborado pela IDA, propôs uma nova definição: “Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica. É caracterizada pela dificuldade com a fluência correta na leitura e por dificuldade na habilidade de decodificação e soletração. Essas dificuldades resultam tipicamente do déficit no componente fonológico da linguagem que é inesperado em relação a outras habilidades cognitivas consideradas na faixa etária.” Tal definição contou com a participação de vários profissionais, entre eles: Susan Brady, Hugh Catts, Emerson Dickman, Guinenere Éden, Jack Fletcher, Jeffrey Gilger, Robin Moris, Harley Tomey e Thomas Viall.
Rotta (2006), as diferenças estruturais entre o cérebro das pessoas com dislexia e o das pessoas sem dislexia concentram-se fundamentalmente no plano temporal. Além da simetria incomum dos planos temporais, o cérebro de leitores disléxicos tem alterações na citoarquitetura e alterações do cerebelo e suas vias. Isso ocorre provavelmente porque houve algum tipo de agressão nos primeiros estágios do desenvolvimento. Finalmente, os neurônios de tecido cerebral dos leitores disléxicos parecem ser menores que a média, pelo menos em algumas áreas de cérebro (por exemplo, o tálamo). O tamanho menor dos neurônios talâmicos pode muito bem estar ligado às anormalidades tanto do sistema visual quanto no sistema auditivo de indivíduos com dislexia. O estudo de Galaburda e colaboradores, em 2001, demonstrou experimentalmente que as alterações na citoarquitetura do córtex temporal e dos tálamos determinam um processamento lento dos sons.
Dentro do quadro da dislexia devemos estar atentos ao histórico familiar para parentes próximos que apresentem a mesma deficiência de linguagem. Também a aspectos pré, peri e pós-natal se o parto foi difícil, se pode ter ocorrido algum problema de anoxia (asfixia relativa), prematuridade do feto (peso abaixo do normal), ou hipermaturidade ( nascimento passou da data prevista para o parto). Se a criança adquiriu alguma doença infecto-contagiosa, que tenha produzido convulsões ou perda de consciência, se ocorreu algum atraso na aquisição da linguagem ou perturbações na articulação da mesma, se houve um atraso para andar, e algum problema de dominância lateral (uso retardado da mão esquerda ou direita), entre outros.
Dentro da etiologia da dislexia sempre deverão ser considerados dois aspectos, que podem estar isolados ou relacionados, como também serem complementares: causas genéticas e causas adquiridas. A etiologia pode ser dividida em: genética, adquirida e multifatorial ou mista.

TESTE de DISLEXIA para ADULTOS

Teste de Dislexia para Adultos

As questões estão relacionadas com diferentes áreas da Dislexia.
Leia as perguntas com atenção e responde com honestidade:
1. Acha difícil distinguir esquerda de direita?
2. Para você é difícil ler um mapa ou encontrar uma direção para um sítio desconhecido?
3. Não gosta de ler em alta voz?
4. Demora mais do que era suposto para ler uma página de um livro?
5. Acha difícil perceber o que leu?
6. Não gosta de ler livros com muitas páginas?
7. Soletra mal?
8. A sua letra (caligrafia) é difícil de ler?
9. Fica confuso se tiver que falar em público?
10. Acha difícil escrever mensagens no celular?
11. Quando diz uma palavra longa, tem dificuldade em dizer todos os sons pela ordem correta?
12. Acha difícil somar usando somente a mente, sem usar os dedos ou papel?
13. Confunde os números quando os marca no telefone?
14. Consegue dizer os meses do ano rapidamente?
15. Consegue dizer os meses do ano de trás para a frente?
16. Confunde datas e horas e esquecer de compromissos?
17. Engana-te muitas vezes ao escrever um cheque?
18. Acha que impressos são confusos?
19. Confunde números como 95 e 59?
20. Para você é difícil aprender as tabuadas?
Se respondeu sim à maioria destas questões, então há uma grande probabilidade de ser disléxico.

QUESTIONÁRIOS

QUESTIONÁRIO PARA PROFESSORES QUE TRABALHAM
COM ALUNOS DISLÉXICOS


1) Dados Gerais:
a) Idade_______
b) Quantos anos atua como professor(a)? _____
c) Qual sua formação? ____________________________

2) Questões Específicas
a) Como você exerce sua práxis, a fim de alcançar os objetivos educacionais da escola?
b) Que metodologia você utiliza para garantir às crianças clareza e segurança no seu aprendizado?
c) O que você faz, quando descobre em sua turma uma criança com dificuldade a leitura.
d) Quais os recursos que você utiliza para trabalhar com essa criança?
e) Você faz um trabalho individualizado ou coletivo já que essa criança tem dificuldade na leitura?
f) Quais as dificuldades vivenciadas pelas crianças no processo de aprendizagem referente a leitura?








QUESTIONÁRIOS DESTINADOS AOS ALUNOS

1) Para você o que é ler e escrever? Comente.
2) Você tem dificuldades na leitura e na escrita? Porque?
3) A leitura e a escrita são importantes para você? Porque?
4) Como você acha que a escola deveria trabalhar para melhorar o trabalho da leitura e da escrita?
5) Você acha que a escola esta lhe ajudando no desenvolvimento da sua leitura e da escrita?
6) Quem tem hábito de ler em sua casa?

DISLEXIA E MAUS TRATOS INFANTIL

DISLEXIA E MAUS TRATOS INFANTIL
“A palavra progresso não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes”
Albert Einstein

Sabemos todos que o Maus-tratos Infantil, é crime. Dentre as várias formas de maus-tratos infantil está o “maus-tratos emocional”:
"É interessante destacar que é uma das formas de maus-tratos infantil mais difícil de diagnosticar. Geralmente, detecta-se quando associado a outros quadros severos de maus-tratos e ainda que confirmada a suspeita, a intervenção dos profissionais e/ou do sistema legal ocorre de forma mais cautelosa", afirma Intebi.
"É a conseqüência da hostilidade verbal crônica em forma de burla, desprezo, crítica ou ameaça de abandono e constante bloqueio das iniciativas de interação infantil. Quem maltrata psiquicamente pode adotar atitudes tais como de humilhar a criança frente aos outros, privá-la de saídas e de sua integração social, utilizando para isto desde apenas evitar a socialização como até encerrar a criança em casa.
Pode-se ilustrar este tipo de maus-tratos dizendo que os filhos podem ser atingidos com atitudes, gestos e palavras, ou simplesmente rechaçando a individualidade da criança ou do adolescente de maneira tal, que impeça o seu desenvolvimento psicológico normal.( Copyright © 2000 eHealth Latin América)"
Lendo este texto, com tais informações, fiquei ainda mais preocupada com as crianças disléxicas que, descobri, sofrem sim maus-tratos, quando estão perfeitamente enquadradas dentro das situações citadas acima. Não precisamos bater numa criança para que ela sinta-se maltratada, basta uma palavra pesada em sua essência...um olhar de desprezo...Nós, pais e educadores, maltratamos uma criança quando não compreendemos suas dificuldades escolares e pior que isso, quando as humilhamos com nossos preconceitos acerca do seu insucesso escolar, quando ao avaliá-las, damo-lhes notas morais e sociais através das suas notas escolares sem ao menos imaginar que nisso existe sofrimento ; quando as comparamos com as crianças não disléxicas . Uma criança com dificuldades escolares está marcada cruelmente, carregando a pesada cruz de não saber o que fazer com suas dificuldades. Elas têm uma bomba nas mãos. Estas crianças são atingidas em cheio na sua auto-estima quando, com nossas atitudes, mostramo-lhes como elas são preguiçosas, lentas, burras, desqualificadas... quando as desprezamos...as abandonamos...quando as deixamos num cantinho da sala de aula...esquecidas.
Até quando estaremos cometendo este crime? Até quando apontaremos o dedo para estas crianças e as julgaremos e as condenaremos pelos seus insucessos escolares, quando na verdade, nós não nos sensibilizamos com suas dificuldades e não ouvimos seus gritos ocultos de socorro desde tão cedo? Até quando nos colocaremos apenas na posição de observadores e juízes, distantes e donos absolutos das verdades educacionais e das teorias pedagógicas? Até quando nos colocaremos à margem das dificuldades das crianças, como se fossemos apenas meros espectadores de suas aprendizagens? Até quando iremos empurrar estas crianças de uma escola para outra, como se esse fosse o processo perfeito para assisti-las em suas dificuldades? Até quando a nossa sociedade literata induzirá crianças e adolescentes inteligentes e sadios, com dificuldades especificamente escolares, à caminhos perigosos que certamente irão desestruturar a vida delas e de seus familiares ? Esse é um caminho perigoso...sem volta.... sem futuro.
Precisamos antes de mais nada, proporcionar a estas crianças e a seus educadores (pais e professores) a informação de que suas dificuldades tem uma nome, um porquê e uma solução. Agimos de forma arbitrária quando jogamos as dificuldades escolares nas mãos das próprias crianças, quando não lhes damos condições para suas realizações, quando imaginamos que a aprendizagem escolar é inata do ser humano, quando não nos apercebemos de que ler e escrever são habilidades adquiridas, precisam de embasamento anterior para que possa acontecer. Afinal não nos colocamos como senhores absolutos da sapiência e da experiência? Somos incoerentes quando, apesar de conhecedores (teóricos) de todos os fundamentos vanguardistas de educação, continuamos presos ao passado, a uma estrutura educacional ultrapassada, e com vínculos dos estereotipados "alunos perfeitos" e "professores onipotentes".
Enfim, fica uma pergunta no ar: São crianças com dificuldades de aprendizagem ou é o sistema escolar com dificuldades de ensino?
Precisamos todos ousar.
Precisamos todos entender.
Precisamos todos nos comprometer.
Com todas as crianças, as disléxicas e as não-disléxicas.

SELENE CALAFANGE