DIFICULDADES DA LINGUAGEM ESCRITA NA DISLEXIA
Para entender o efeito das dificuldades fonológicas no domínio da linguagem falada sobre a aquisição das habilidades da linguagem escrita, é necessário considerar o que o desenvolvimento da leitura envolve. Aprender a ler em uma escrita alfabética, como o inglês, requer uma apreciação das correspondências entre as letras e os sons - o princípio alfabético. Ainda que . muitas crianças pequenas comecem lendo palavras inteiras pelo reconhecimento visual, elas precisam aprender como as letras nas palavras impressas representam os sons das palavras faladas, se quiserem ser leitores flexíveis. O primeiro passo nesse processo requer a capacidade para refletir sobre a fala, isto é, a "consciência fonológica". Por isso, as crianças disléxicas que têm dificuldades no domínio fonológico estão desde o início em desvantagem. As crianças disléxicas, freqüentemente, continuam a confiar em um vocabulário de reconhecimento visual na leitura e, assim, cometem muitos erros de leitura visual, como, por exemplo, GRANDMOTHER - gentleman; FROM - for; ORGAN – Orange. (ver Goulandris, neste volume). Elas são incapazes de abstrair as correspondências entre letra e som da sua experiência com palavras impressas e, por isso, não conseguem desenvolver estratégias de leitura fonológica (fônica) (Manis et al., 1993; Snowling, 1980; 1981). Na verdade, há muitas evidências de que as crianças disléxicas têm dificuldades na leitura de não-palavras que estão em descompasso com suas habilidades de leitura visual (Rack, Snowling e Olson, 1992).
Segundo Frith (1985), o disléxico desenvolvimental clássico não consegue realizar a transição para a fase alfabética do desenvolvimento da alfabetização. Além de suas dificuldades com a leitura, tais crianças também tendem a ter problemas para soletrar as palavras da maneira como elas soam. Enquanto os erros de ortografia fonética são comuns na escrita de crianças pequenas, como, por exemplo, PACKET - pakit; YELLOW - yelo, as crianças disléxicas freqüentemente fazem tentativas não-fonéticas, como, por exemplo, pagit, yorol. As crianças que lêem e falam desta maneira têm sido, às vezes, descritas como disléxicas fonológicas desenvolvimentais (Temple e Marshall, 1983; Seymour, 1986).
Entretanto, há também crianças disléxicas que parecem ter dominado habilidades alfabéticas. Segundo Frith, essas crianças estão falhando em realizar a transição para a fase ortográfica do desenvolvimento. Essas crianças são, às vezes, referidas como disgráficas desenvolvimentais ou disléxicas desenvolvimentais superficiais (Coltheart, Masterson, Byng et al., 1983; Seymour, 1986). Em inglês, soletrar alfabeticamente não constitui uma ortografia precisa, pois há muitas exceções às regras que as crianças precisam dominar (ver Cootes e Simpson, neste volume). A característica clássica dessas crianças é que elas lêem muito bem no contexto, mas, na leitura de palavras soltas, confiam muito na emissão do som. Elas têm dificuldades específicas com homófonos como PEAR-PAIR e LEEK-LEAK, que confundem e cuja ortografia é em geral fonética.
Embora haja uma carência visível de evidências em prol de subtipos distintos (cf. Bryant e Impey, 1986), muitos estudos sistemáticos de diferenças individuais entre disléxicos têm revelado variações em suas habilidades de leitura (Castles e Coltheart, 1993). Em um estudo recente, comparamos duas crianças que exibiam um estilo disléxico fonológico de leitura (lendo palavras de maneira significativamente melhor do que não-palavras), com duas crianças que pareciam disléxicas superficiais (lendo palavras irregulares de maneira significativamente pior do que as palavras regulares). Avaliando o desenvolvimento dessas crianças durante dois anos, descobrimos que elas diferiam na gravidade dos seus problemas de processamento fonológico (Snowling e Goulandris, no prelo). As duas crianças que mostraram um perfil disléxico fonológico tiveram mais dificuldade com o processamento fonológico do que as duas que mostraram um perfil disléxico superficial, avaliado por testes de rima, repetição de não-palavras e ortografia. Entretanto, até mesmo os disléxicos superficiais tiveram um desempenho pior nas tarefas fonológicas do que os leitores normais da mesma idade. Tais descobertas corroboram a hipótese de que as dificuldades de leitura dos disléxicos originam-se de problemas de processamento fonológico. Entretanto, sugerem que a gravidade das dificuldades fonológicas das crianças podem afetar a maneira em que o seu sistema de leitura torna-se estabelecido e se elas parecem disléxicas fonológicas ou superficiais.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
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