A Hereditariedade da dislexia
Há muitos anos se sabe que a leitura deficiente tende a ocorrer em famílias e, hoje em dia, há evidências conclusivas de que a dislexia é hereditária (De Fries, 1991, para uma revisão). Os geneticistas do comportamento têm mostrado que há até 50% de probabilidade de um menino se tornar disléxico se seu pai for disléxico (cerca de 40% se sua mãe for afetada); a probabilidade de uma menina desenvolver dislexia é um pouco menor. O que é herdado não é a deficiência de leitura per se, mas aspectos do processamento da linguagem. Os resultados de estudos em grande escala realizados com gêmeos sugerem que há uma hereditariedade maior de aspectos fonológicos (fônicos) do que aspectos visuais da leitura. Além disso, as habilidades fonológicas de leitura compartilham uma variação hereditária com a consciência fonológica: a capacidade de refletir sobre a estrutura sonora das palavras faladas (Olson et al., 1989).
Com os estudos genéticos como pano de fundo, a menor idade em que as crianças disléxicas têm sido estudadas é a de 2 anos (Scarborough, 1990). Scarborough cercou o problema do diagnóstico precoce realizando um estudo longitudinal de crianças que estavam "em risco" de dislexia em virtude de terem pai ou mãe disléxicos. Ela comparou o desenvolvimento dessas crianças com aquele de crianças de famílias nâo-disléxicas dos 2 aos 7 anos de idade. Quando as crianças estavam com 7 anos e suas habilidades de leitura puderam ser avaliadas, foi possível observar, retrospectivamente, os dados da pré-escola e comparar as crianças que vieram a se tornar disléxicas com crianças que não desenvolveram dificuldades de leitura. Uma importante diferença entre os grupos estava na produção da fala. Embora as crianças disléxicas usassem uma variedade tão grande de vocabulário nas conversas com suas mães quanto suas contra partes não-disléxicas, elas cometiam mais erros de fala e seu uso da sintaxe era mais limitado. Aos 5 anos, as crianças disléxicas tinham mais dificuldade com a nomeação dos objetos e com as tarefas de consciência fonológica. Suas habilidades de alfabetização emergentes também eram mais deficientes; estavam menos familiarizadas com as letras do alfabeto e tinham um desempenho pior na correspondência das imagens com a palavra impressa.
Um estudo recente, por nós realizado, vai em direção à ratificação dos resultados encontrados por Scarborough. Gallagher, Frith e Snowling recrutaram 73 crianças de famílias em que havia um parente de primeiro grau com dislexia e as avaliaram em uma série de tarefas de linguagem pouco antes de completarem 4 anos. Embora não diferissem na sua habilidade não-verbal, as crianças em risco de dislexia tiveram um desempenho em geral mais fraco nos testes de fala e processamento da linguagem do que as crianças das famílias controle, sem história de dislexia. Elas exibiram, particularmente, déficits em sua compreensão do vocabulário e em sua habilidade de nomeação, assim como na repetição de palavras novas (não-palavras de duas sílabas). Em termos de habilidades anteriores à alfabetização, as crianças em risco apresentaram um conhecimento mais fraco das letras e das rimas infantis.
Esses dois estudos das deficiências nas crianças em risco de dislexia realizados bem antes da época tradicional do diagnóstico, na idade escolar, sugerem que as crianças disléxicas exibem déficits de linguagem precoces. Os dados são consistentes com a teoria de que a dislexia é um déficit do processamento fonológico; deficiências no sistema de produção da fala foram reveladas em ambos os estudos, assim como problemas de consciência fonológica emergentes. Entretanto, esses estudos também nos alertam para a possibilidade de dificuldades de linguagem mais diversificadas nas histórias dessas crianças. Os atrasos ou dificuldades revelados no desenvolvimento de sintaxe produtiva e de vocabulário raramente são discutidos com referência à criança disléxica em idade escolar. Pode ser que eles sejam compensados com o desenvolvimento ou, pelo menos, fiquem fora do alcance da vista (cf Stackhouse e Wells, 1991).
As evidências dos estudos de dislexia realizados durante o tempo de vida dos pacientes são bastante consistentes com aqueles das comparações de grupos de crianças disléxicas e normais. Passaremos, agora, a examinar a pesquisa que contribui para a visão geralmente aceita de que os déficits de processamento fonológico são déficits básicos na dislexia. Assim fazendo, continuamos cientes do fato de que a manifestação comportamental dos déficits subjacentes à dislexia dependerá da idade da criança e da extensão em que eles têm sido remediados, quer através do ensino ou através de outras formas de intervenção, incluindo a fonoaudiologia (Frith, 1995; Morton e Frith, 1995).
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário