A dislexia e o Projeto Genoma Humano
A dislexia é um problema que se detecta em crianças que sofrem dificuldades de leitura. Os testes psicopedagógicos, com uma relativa precisão, diagnosticam as dificuldades de aprendizagem relacionadas à linguagem. Todavia, qual a origem da dislexia ou das dislexias? Os maus leitores são conseqüências de maus métodos do ensino da leitura? A dislexia é hereditária? Há uma lista interminável de causas atribuídas à dislexia. Psicólogos, oftalmologistas, neurologistas, neuropsicólogos, pediatras, pedagogos, psicopedagogos, lingüistas, neurolingüistas e psicolingüistas, todos têm uma explicação ou uma etiologia da dislexia, apontando, entre outros fatores, problemas sócio-efetivos, visuais, auditivos, motores, neurológicos, fonológicos e, agora, com o Projeto Genoma Humano, geneticistas europeus acreditam que as alterações cromossômicas estão associadas ao transtorno da leitura.
Como lingüista, tenho uma forte inclinação para considerar que as dificuldades de leitura são problemas de consciência fonológica das crianças, na educação infantil e no processo de alfabetização escolar, indicando o déficit lingüístico como a principal causa da dislexia.
Minha investigação sobre o assunto, nos últimos sete anos, revela que a incapacidade do reconhecimento dos fonemas e letras é um componente que pesa muito na hora de a criança ler e compreender o que lê ou no simples ato lingüístico de soletrar palavras. Sem embargo, confesso que me rendo às recentes descobertas dos quatro genes ligados à dislexia.
Chega-nos, através da revista britânica Journal Of Medical Genetics, a informação de que são quatro os genes de suscetibilidade à dislexia: o DYX1, o DYX2, o DYX3 e o DYX4. Observem que determino cada gene, antepondo o artigo definido em todos os símbolos genéticos, o que significa que já foram localizados e mapeados pelos pesquisadores. São genes em diferentes posições, o que nos leva a suspeitar do caráter heterogêneo dos transtornos de leitura.
O gene de descoberta mais recente é o DYX3, do cromossomo 2, que vem merecendo especial atenção dos estudiosos na área de Linguagem, especialmente os neurolingüistas e psicolingüistas, por ser resultado de uma pesquisa levada a cabo pelo doutor Toril Fagerheim, do Hospital Universitário de Tromsoe, na Noruega. O doutor Fagerheim coordenou uma equipe multinacional de médicos e descobriu o gene DYX3 após estudar 36 membros de uma família noruega com antecedentes de dislexia.
O segundo passo agora é clonagem dos genes. Clonando o gene DYX3, os geneticistas poderão demonstrar a natureza e a freqüência dos genes envolvidos nas alterações de leitura e linguagem.
A descoberta do gene e de seu funcionamento é de extrema importância para a pedagogia da leitura. Uma vez sendo identificado um gene ligado à dislexia, na criança em idade escolar, provavelmente não poderemos, ainda, oferecer uma cura, não obstante, para a pediatria ou neurologia a intervenção médica será reorientada e os professores, por sua vez, poderão intervir pedagogicamente, isto é, de forma mais individual, precisa e eficaz, no processo de aprendizagem da leitura.
Certo é que os pesquisadores do Projeto Genoma Humano descobrem, a cada momento, que não existem mais dúvidas de que componentes genéticos estão envolvidos com os transtornos de leitura e escrita. Os médicos e os profissionais da educação escolar se rendem também à biotecnologia.
Uma outra pesquisa, não menos importante do que a de Toril Fagerheim, está sendo feita pelo neuropsicólogo Frank Wood, da Universidade de Forest Wake, e revela que outros cromossomos (6, 1,2 e 15) têm relações com a inabilidade de algumas crianças no processamento do texto.
Estas descobertas genômicas, no momento, levam-nos a especulações de diversas ordens. Uma delas é a implicação ética do fazer pedagógico. É bem provável que, no futuro, a identificação dos leitores será feita através de um microchip, que descreverá nossos defeitos e qualidades nas habilidades lingüísticas (leitura, escrita, fala e escuta).
Estamos aqui a esperar que a lingüística se transforme em uma biotecnolingüística(o neologismo é meu) em que a dificuldade de leitura não será mais chamada de dislexia e sim , simplesmente, desordem genética.
A dislexia e o método de ensino
A intervenção na reeducação das crianças disléxicas passa necessariamente no ensino eficaz da língua materna. No caso do Brasil, no ensino eficiente da língua portuguesa.
É sempre útil começar um texto com perguntar. É a forço da ontologia que orienta a prática dos docentes. Eis, assim, as três questões básicas para nossa reflexão sobre a temática do ensino do português no âmbito da educação básica:
– Por que a língua portuguesa deve ser ensinada na escola, se as pessoas, independentemente de escola, já falam o "Português" na rua, em casa, nos estádios de futebol?
– Se é papel da escola o ensino do português, que português deve ser ministrado nos bancos escolares?
– Que diz a LDB sobre o valor da língua materna no processo de formação escolar?
Comecemos, então, pela última indagação.
A Lei Federal 9.394/96 (a LDB), de 20 de dezembro de 1996, estabelece a seguinte composição dos níveis escolares: I – Educação Básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio e II – Educação Superior. Não devemos, pois, falar em 1º grau, mas em ensino fundamental, ou 2º graus, mas ensino médio. É uma atualização terminológica que se faz necessária.
Como componente do Currículo da Educação Básica, a língua portuguesa e uma disciplina obrigatória. A Lei determina que o estudo da língua portuguesa ( e matemática também) deva abranger, obrigatoriamente, o currículo do ensino fundamental e médio (Art. 26). Este português é o erudito, histórico, oficial, e de raízes européias.
Especificamente para o ensino fundamental, o domínio da leitura e da escrita são meios básicos para o desenvolvimento da capacidade de aprender nos oito anos de ensino obrigatório.
O currículo do ensino médio, por sua vez, aponta a língua portuguesa como: a) instrumento de comunicação; b) acesso ao conhecimento e c) exercício de cidadania. Vejam, então, a grande missão da escola após onze anos de formação escolar: deve deixar seus alunos prontos para a plena comunicação e expressão verbal, hábeis para acessar os novos meios de comunicação, particularmente, a linguagem informática, e desenvolver consciência critica para enfrentar o mundo do trabalho e os desafios das novas formas de ocupação da sociedade pós-industrial.
Agora, vocês poderão me colocar os limites da escola: os limitados recursos materiais e humanos.. Entre os materiais, a carência de bom material didático-pedagógico para alunos e professores, o espaço físico das salas de aula, a questão da merenda escolar nas escolas públicas, entre outras dificuldades. Do outro lado, a má formação de nossos professores e professoras, uns sem uma educação superior, outros sem ter passado por uma pós-graduação, a questão salarial, enfim.
Muitos problemas na escola não são da escola, mas da sociedade e, sendo assim, eis um desafio para a comunidade escolar: o equilíbrio, a solidariedade de todos que fazem a comunidade escolar, isto é, professores, alunos, diretores, pais, governos e todos que direta e indiretamente estão ligados à escola.
Mas, em todo caso, imaginemos uma situação mínima para começar ( e enquanto a mobilização nas instâncias reivindicatórias) e, seja como for, devemos dar o primeiro passo.
A escola também, não deve esquecer que para alguns desafios pode contar como outros parceiros, como as universidades públicas, que , em muito ode ajudar, por exemplos, no processo de formação dos docentes e na abertura de entrosamente entre escola, universidade e governo. A universidade é , quase sempre, uma excelente parceira na intermediação entre escola e governo.
Do ponto de vista didático, os primeiros passos para o trabalho com a língua portuguesa estão bem traçados hoje nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), do MEC. É possível, mesmo em condições materiais e humanas mínimas, se fazer um trabalho razoável com a língua portuguesa. Nesse caso, trabalharemos com o uso e a reflexão da língua materna. Para um sistema que tende a ser organizado em ciclos, o uso deverá ser trabalhado no primeiro ciclo (1ª e 2ª séries) e a
reflexão no 2º ciclo (3ª e 4ª séries).
O uso da língua como objeto de estudo do português pressupõe respeito à fala que a criança traz à escola, isto é, papel da escola ensinar a língua portuguesa respeito o português familiar que o aluno da interação no meio em que vive. A
A reflexão também leva em conta o que a criança traz de sua família e de sua vida fora da escola e seu estudo leva a uma consciência dos processos de aquisição de linguagem como leitura e escrita. Uso e reflexão lingüística andam sempre juntos no processo ensino e aprendizagem da língua portuguesa.
Para o trabalho com o uso e a reflexão da língua portuguesa, reconhecê-lo como língua histórica é fundamental. Situá-la no nosso tempo e em outros estilos de época é salutar para que as crianças percebam o portuquês das diferenças do nosso português comparados ao francês, italiano, espanhol, das semelhanças e desemelhanças lingüísticas e, sendo todas línguas-irmãs e filhas e do Latim, língua falada na idade medieval.
Além da visão histórica da língua materna, o professor deve ter uma visão científica de sua língua portuguesa. Assim, ter informação científica, com base na ciência da linguagem, a Lingüística, se faz imperiosa, especialmente na educação infantil e no processo de alfabetização escolar, e/ou para colocar uma palavrinha mais hodiena, a leituralização escolar.
Iniciar o aluno no processo deleiturização ou letramento sob a édigde da Lingüística é importante para o professor porque lhe dá segurança na transmissão dos saberes e para o aluno garante uma aquisição menos arbitrária e mais consciente. Aí, muitas coisa vão acontecer se o professor (ou professora) passar a ter uma postura lingüística em sala.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
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