COMO OS SONS NASAIS INFLUEM NA LEITURA
Durante a leitura em voz alta, muitas crianças encontram dificuldade na articulação de vogais e consoantes nasais, o que as leva a não reconhecerem palavras com fonemas nasais. Sem reconhecimento das palavras, não há decodificação leitora, importante etapa no processo de leitura.
Os professores, quando não atentos ao valor dos sons nasais na prática da leitura de textos, torcem o nariz aos maus leitores, e os alunos, por sua vez, diante do fracasso leitor, ficam de nariz comprido.
Sem a produção dos sons nasais, belos textos, especialmente os poemas em versos, perdem todo seu encanto lírico, sua emoção, seu ritmo e a força de expressividade de suas rimas.
Durante as aulas de leitura, fazem parte do cardápio escolar a leitura de sonetos de poetas e poetisas brasileiros como Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles e Henriqueta Lisboa, autores que explicitamente exploram, em seus versos, vogais e consoantes nasais.
Um bom exemplo é o poema Canção de Garoa, de Mário Quintana em que o poeta diz: “ Em cima do meu telhado/ Pirulin lulin lulin,/Um anjo, todo molhado,/Solução no seu flautim/. Na estrofe seguinte o poeta continua a explorar os fonemas nasais: /O relógio vai bater:/As molas rangem sem fim./O retrato na parede/Fica olhando para mim./”. E na última estrofe conclui: “E chove sem saber por quê.../E tudo foi sempre assim!/Parece que vou sofrer:/Pirulin lulin lulin...”
Não apenas na leitura, mas já na aquisição da fala, as crianças percebem o papel da cavidade nasal na articulação dos sons da fala.
Na educação infantil, a articulação dos sons nasais, todos sonoros, são exigidos dos pequenos a exploração das cordas vocais situadas na laringe. A fisiologia do esforço articulatório dos sons nasais é a seguinte: durante a produção dos sons nasais, uma parte da corrente de ar expirado proveniente da laringe passa pelas fossas nasais, devido ao abaixamento da úvula e do véu palatino, causando uma vibração intensa nas fossas nasais.
Isso que dizer que a pronúncia dos sons nasais leva o véu palatino a ficar abaixado total ou parcialmente, permitindo que uma parte do ar pulmonar saia pelas fossas nasais, produzindo aí uma ressonância, cujo efeito auditivo é conhecido por nasalidade.
As vogais nasais do Português
Na escrita, as vogais são representadas por dígrafos vocálicos nasais, na verdade, grupos de duas letras usados para representar um único fonema. No português são dígrafos nasais: am, an, em, en, im, in, on, om, um e u.
As consoantes nasais do Português
As consoantes nasais são fonemas sonoros (as cordas vibram) em cuja articulação o ar expirado ressoa na cavidade nasal por encontrar abaixados a úvula e o véu palatino, como /m/ na palavra cama,/n/ em cana,/nh/ em lanho.
N, n
O valor fonético da letra ene – O n (ene) é a décima terceira letra e décima consoante do nosso alfabeto. Esta letra representa a consoante oclusiva nasal dental-alveolar, como em nó (diante de consoante ou em final de palavra, não é pronunciada como oclusiva nasal e freqüentemente não é pronunciada, nasalizando a vogal precedente, como nas palavras manso e hífen.
M, m
O valor fonético do eme - O m (eme) é a letra que representa a consoante oclusiva nasal bilabial sonora como na palavra meu, camelo e morro.
~
O til - Durante a aquisição e o desenvolvimento da leitura em voz alta ou a alfabetização em leitura, no ensino fundamental, o reconhecimento do til como um sinal diacrítico que nasala a vogal à qual se sobrepõe. O til, marcado nos textos medievais, desde o ano de 1632, é o sinal gráfico que na escrita confere a uma letra novo valor fonético (pronunciação) e/ou fonológico (função distintiva na língua).
Bibliografia compulsada:
BISOL, Leda. (org.). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. 3º ed. Ver. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
2. Borba, Francisco da Silva. Introdução aos estudos lingüísticos. 11 ed. Campinas, SP: Pontes, 1991. (pp.99-142)
3. CALLOU, Dinah, LEITE, Yonne. Iniciação à Fonética e à fonologia. 4º ed. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 1990.
4. CAMARA JR, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. 13 ed. Petrópolis, J: Vozes, 2000. (pp.33-65)
5. CAMARA JR, Joaquim Mattoso. Problemas de lingüística descritiva. 18 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. (pp.7-39)
6. CARVALHO, Marlene. Guia prático do alfabetizador. 4] ed. São Paulo: Ática, 19999.
7. FARACO, Carlos Alberto. Escrita e alfabetização: características do sistema gráfico do português. São Paul: Contexto, 1992. (Coleção Repensando a língua portuguesa)
8. LEMLE, Mirian. Guia teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática, 1991.
9. LOPES, Edward. Fundamentos da lingüística contemporânea. 17 ed. São Paulo: Cultrix, 1999.
10. LYONS, John. Linguagem e lingüística: uma introdução. Tradução de Marilda Winkler Averbug e Clarisse Sieckenius de Souza . Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 1987. (pp. 71-100)
11. MACAMBIRA, José. Fonologia do português. Fortaleza: Secretaria de Cultura do Ceará, 1985
12. MASSINI-CAGLIARI, Gladis. Acento e ritmo. São Paulo: Contexto, 1992 (Coleção Repensando a língua portuguesa)
terça-feira, 16 de novembro de 2010
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