DIFICULDADES COMUMENTE ASSOCIADAS À DISLEXIA
A visão da dislexia que defendemos aqui é semelhante ao modelo da dislexia da diferença fonológica de cerne variável (phonological core-variable difference), desenvolvida por Stanovich em uma série de artigos (Stanovich, 1986; Stanovich, 1994; Stanovich e Siegel, 1994). Colocado de maneira simples, o cerne da dislexia é um déficit do processamento fonológico, e quanto mais próximo do cerne está uma determinada habilidade de processamento, maior a certeza de que os leitores deficientes diferirão dos leitores normais com respeito a essa habilidade. As habilidades próximas ao cerne da dislexia incluem a leitura de não-palavras e aspectos da consciência fonológica; as habilidades não tão próximas incluem avaliações da memória de trabalho e da compreensão auditiva. É com relação a estas duas últimas habilidades que esperamos encontrar diferenças entre os leitores disléxicos e outros tipos de leitores deficientes, como, por exemplo, aqueles com dificuldades gerais de linguagem.
Tendo em mente a idéia de um cerne fonológico na dislexia, convém retornar à questão das crianças que têm dificuldades de fala e de linguagem. Infelizmente, a literatura apresenta um quadro confuso que pode não nos ajudar no momento. Enquanto os estudos retrospectivos apontam caracteristicamente para uma historia de dificuldades de fala e de linguagem nas crianças disléxicas (Rutter e Yule, 1975), os estudos prospectivos de crianças com dificuldades de fala e de linguagem contradizem tal posição. Não parece verdade que as crianças que têm deficiências de linguagem na pré-escola vão ter dificuldades especificas de leitura (dislexia); ao contrário, elas têm problemas de leitura mais gerais, abrangendo dificuldades com a compreensão da leitura que, em geral, não são experimentadas pelas crianças disléxicas (Bishop e Adams, 1990; Magnusson e Naucler, 1993; Stothard, Snowling e Bishop, em preparação).
Uma resolução razoável para esse enigma é que as crianças com dificuldades óbvias na linguagem falada têm problemas fonológicos similares àqueles que estão no cerne da dislexia, mas são diferentes das crianças disléxicas, pois têm problemas concomitantes em outros domínios da linguagem. Por exemplo, dificuldades com a gramática e com o significado colocariam essas crianças em risco de dificuldade na compreensão da leitura. Não trataremos mais de observações certamente especulativas. Basta dizer que vários padrões diferentes de desenvolvimento da leitura podem ser observados em crianças com dificuldades de fala e de linguagem, sendo razoável supor que o perfil da dificuldade observada dependerá do nível de comprometimento das suas habilidades de processamento fonológico, em interação com outras habilidades de linguagem (Snowling, 1987; Snowling, Stackhouse e Rack, 1986; Stackhouse, neste volume).
O papel dos fatores visuais na dislexia
Assim como uma consideração das deficiências sutis de linguagem nas crianças disléxicas é importante para se entender a natureza precisa de suas dificuldades de leitura e ortografia, também devem ser levadas em conta suas habilidades de processamento visual. Entretanto, não há evidência conclusiva de que as deficiências de processamento visual em si causem dislexia. Mas isso não exclui a possibilidade de que essas dificuldades possam aumentar o problema da leitura. Acredita-se que as habilidades visuais contribuem para o desenvolvimento da leitura; na verdade, elas podem ser particularmente importantes nas crianças que têm dificuldade de linguagem na provisão de um conjunto alternativo de estratégias compensatórias para elas.
Há duas linhas principais a serem seguidas na pesquisa atual sobre os fatores visuais na dislexia. Stein e seus colegas (Stein, 1991) têm sugerido que as crianças disléxicas têm controle motor ocular deficiente. Grande parte da sua pesquisa usou o Dunlop Test como parte de uma avaliação ortóptica e mostrou que menos crianças disléxicas do que leitores normais têm um olho de referência estabelecido. Eles recomendam a oclusão monocular como um meio de se estimular o controle binocular e facilitar a aprendizagem da leitura (ver Bishop, 1989, para uma crítica).
Lovegrove e seus colegas buscaram outra possibilidade, qual seja, de que as crianças disléxicas tenham deficiências de nível baixo do sistema visual transitório (Lovegrove e Williams, 1993). Essas dificuldades levariam as crianças a experimentar embaçamento do texto impressa e, por isso, afetariam suas leituras. Os dados que o grupo de Lovegrove apresentam são convincentes, mas, ao contrário dos dados sobre os déficits fonológicos, não há evidências sugerindo que tais deficiências visuais estejam causalmente relacionadas a problemas de leitura. O que está faltando é um estudo longitudinal que examine o papel dos fatores visuais na aprendizagem da leitura. Acreditamos que, até que essa evidência esteja disponível, é importante que os profissionais estejam alertas para a possibilidade de que deficiências no processamento perceptual e déficits da memória visual exacerbem as dificuldades dos disléxicos. Onde existem problemas perceptuais pode-se prever também problemas de controle mental. Algumas crianças disléxicas têm dificuldades com as habilidades motoras finas, as quais impedem o desenvolvimento da caligrafia e das habilidades a ela relacionadas (ver Taylor, neste volume).
Em uma veia similar, muitas crianças disléxicas têm problemas de concentração, particularmente nas salas de aula. Talvez a explicação mais simples seja que as crianças não conseguem enfrentar os materiais escritos apresentados e, por isso, suas mentes se desviam. Entretanto, algumas crianças disléxicas têm dificuldades mais profundas com o controle da atenção. Estas requerem uma investigação à parte, porquanto, caso não sejam tratadas, exacerbarão a condição disléxica.
domingo, 12 de julho de 2009
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