O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES
DE CALIGRAFIA
Os sistemas de escrita foram desenvolvidos pela humanidade para comunicar pensamentos e idéias de maneira permanente. Uma grande variedade de línguas e suas escritas correspondentes são usadas em diferentes partes do mundo atualmente, e para se conseguir usá-las eficientemente é preciso dominar tanto seus códigos quanto suas formas escritas. A caligrafia é uma habilidade física e requer um alto grau de coordenação perceptual-motora. O propósito deste capitulo é examinar algumas dificuldades experimentadas pelas crianças que estão aprendendo a escrever e sugerir estratégias para ajudar tanto o iniciante na escrita quanto a criança cuja caligrafia e motivo de preocupação.
Ao aprender a escrever, a tarefa da criança é dominar 26 letras minúsculas e maiúsculas, os numerais de 0-9 e a pontuação básica. Para promover a aquisição de uma escrita hábil, são requeridos ensino e treinamento específicos. Para as crianças que estão tendo dificuldade na caligrafia, o diagnóstico preciso das causas é um precursor necessário para a remediação. Além disso, é necessário garantir que seja proporcionado tempo suficiente para a prática desta habilidade, com um monitoramento adequado do desempenho, até que uma escrita legível, fluente e atrativa possa ser produzida com facilidade.
DÉFICITS FUNDAMENTAIS QUE CAUSAM DIFICULDADES NA CALIGRAFIA
Há várias razões pelas quais que uma criança pode estar experimentando dificuldades na caligrafia. Vamos começar considerando algumas delas.
Síndrome da descoordenação do desenvolvimento (SDD)
Os alunos com SDD, anteriormente referidos como desajeitados, são crianças que experimentam muitos problemas na aquisição das habilidades motoras de uso cotidiano. Elas podem experimentar dificuldades motoras grossas, como déficits motores sensoriais, tônus postural deficiente, dificuldades de planejamento sequencial e motor, equilíbrio deficiente, movimento de olhos deficiente, incapacidade para cruzar a linha mediana, imagem corporal deficiente e confusão na direcionalidade e na lateralidade. Os marcos desenvolvimentais frequentemente foram alcançados com atraso, e a criança e ruim em educação física e esportes.
Uma criança que tenha SDD pode achar o controle motor grosso requerido para manter uma boa postura para a escrita e a habilidade correta para usar instrumentos difíceis de conseguir. As habilidades manuais finas e de coordenação dos olhos podem também ser afetadas nessas crianças. Por isso, elas têm dificuldade para aprender a formação de letras correta e para usar com competência os instrumentos da escrita. O Test of Motor Impairment (1982), atualmente revisado como Moviment Assessment Battery for Children (ABC) (Henderson e Sugden, 1992), é um instrumento diagnóstico útil para apontar as áreas de dificuldade. Fornece uma lista para ajudar o professor de classe a identificar aquelas crianças que tem dificuldades de movimento. Pode ser administrado um teste mais detalhado que forneça informações sobre o grau e a natureza precisa da deficiência motora. A criança que demonstra dificuldades de movimento deve ser considerada em risco, e os problemas que ela experimenta devem ser identificados. Programas adequados para aumentar as habilidades nas áreas de deficiência diagnosticadas devem ser considerados uma parte essencial da política de uma escola para a educação física.
Dificuldades perceptuais visuais e motoras visuais
Muitas crianças com síndrome de descoordenação desenvolvimental também têm percepção visual deficiente, o que torna mais difícil a aquisição das habilidades requeridas para a caligrafia. Gardner (1982), em seu Test of VisualPerceptual Skills, define a percepção visual como "a capacidade para dar significado ao que é visto". Ele sugere que podem ser identificadas sete áreas:
· Discriminação visual: a capacidade para comparar ou determinar as características exatas de duas formas quando uma das formas está entre formas similares.
· Memória visual: a capacidade para lembrar no caso de evocação imediata, todas as características de uma determinada forma, e ser capaz de encontrar esta forma entre uma série de formas similares.
· Relacionamentos visuais-espaciais: a capacidade para determinar, entre varias formas idênticas, a única forma, ou parte de uma única forma, que está indo em uma direção diferente das outras formas.
· Constância da forma visual: a capacidade para ver uma forma e ser capaz de encontrá-la, mesmo que a forma possa estar menor, maior, girada, invertida e/ou oculta.
· Memória sequencial visual: a capacidade para se lembrar, no caso de evocação imediata, de uma série de formas entre um conjunto de formas maior.
· Campo visual da figura: a capacidade para perceber uma forma visualmente e encontrar esta forma oculta em um campo de matérias heterogêneas [conglomerated ground of matter].
· Fechamento visual: a capacidade para determinar, entre várias formas incompletas, aquela que é igual à forma estímulo, isto é, a forma completa.
O teste examina cada área, e as pontuações dão uma indicação muito clara das potencialidades e deficiências da criança.
Outro teste útil, que determina a capacidade de uma criança para copiar com precisão uma forma apresentada e The Developmental Test of Visual-Motor Integration 3R (Beery, 1989), frequentemente conhecido como VMI. Uma sequência de 24 formas geométricas é apresentada à criança para ela copiar. Se uma criança demonstra problemas com a percepção visual ou motora visual, deve ser considerada em risco, e precisa-se avaliar as maneiras em que ela pode ser ajudada em classe a fortalecer as áreas específicas em que se mostra deficiente.
Uma criança com problemas perceptuais visuais pode achar difícil lembrar a forma de uma letra específica, a sequência do padrão de movimento de uma letra e a sequência das letras em uma palavra. A pausa para lembrar como escrever uma palavra pode tomar a escrita desalinhada. Essas crianças podem inverter as letras ou não conseguir enxergar padrões similares nas letras. Podem ter dificuldade para regular a inclinação ou perceber a altura regular das letras, e achar difícil manter um espaço uniforme entre as letras e entre as palavras.
Se a criança tem problemas sérios, seja de coordenação motora ou percepção visual, pode ser necessário buscar o aconselhamento de um fisioterapeuta e/ou de um terapeuta ocupacional.
Dislexia
As crianças com dislexia ou dificuldades de aprendizagem específicas experimentam dificuldade no processamento da linguagem escrita de podem também ter problemas com a numeração. Como acham difícil aprender a ler,
escrever ou expressar as pensamentos no papel, escrevem menos palavras. Também completam menos exercícios de matemática. Por isso, não é difícil perceber que, na verdade, elas praticam menos sua escrita do que suas colegas. Também são desestimuladas por considerarem tão trabalhosa a caligrafia e pelo resultado ruim de seus esforços.
Um teste como o Aston Index (Newton e Thomson, 1982) ou o MIST (ver Hannavy) poderia ser usado pelo professor de classe para avaliar as dificuldades da linguagem escrita, pois estas crianças vão necessitar de ajuda adequada para melhorar suas habilidades de alfabetização alem de passar algum tempo dominando as habilidades da caligrafia.
Transtorno de déficit da atenção / hiperatividade (TDAH)
As crianças com TDAH são aquelas que "diferem de seus colegas no grau em que parecem ser capazes de manter a atenção nas tarefas e nas atividades lúdicas". Elas também exibem dificuldades extremas em começar e terminar as lições escolares e outras atividades. Pela própria natureza desta dificuldade básica, é provável que as crianças com TDAH tenham problemas em concentrar atenção suficiente nos detalhes que o domínio da caligrafia requer nos primeiros estágios da aprendizagem da escrita.
Deficiências físicas
As crianças com deficiências como paralisia cerebral e osteogênese (ossos frágeis) provavelmente vão requerer ajuda específica para adquirir habilidades para a caligrafia. Podem precisar deixar totalmente de lado à escrita a mão e adotar meios de comunicação alternativos, como um processador de texto.
Outras razões para as dificuldades da caligrafia
Algumas crianças não conseguem assimilar os elementos necessários para a caligrafia por razões menos claramente definidas. Talvez, possa ter havido ensino, aprendizagem e prática insuficientes em um estágio vital da aprendizagem da escrita, ou a padrão de caligrafia esperado pelo professor possa ter sido consideravelmente inferior ao padrão do potencial da criança. Por outro lado, elas podem simplesmente ter perdido as aulas de instrução da caligrafia por razões variadas, como uma enfermidade ou mudança de escola. As escolas devem desenvolver uma política sistemática de caligrafia para garantir que a criança em situação de risco tenha apoio e tempo suficiente para lhe permitir desenvolver uma caligrafia fluente e apresentável.
ERGONOMIA
Antes de passar à instrução da caligrafia, o professor deve estar consciente do ambiente físico em que se espera que a criança escreva. É necessário considerar:
* Se a altura da mesa e da cadeira está adequada à criança. Brown (1989) sugere que, como regra prática, a altura deve ser a metade da altura da criança e o assento da cadeira deve ser um terço da sua altura. Entretanto, Lewis e Salway (1989) indicam que sentar a "criança mais velha pequena" em duas cadeiras empilhadas produziu um comportamento mais maduro. A alternativa é usar uma mobília ajustável ou um banquinho para os pés. A tendência atual é considerar se uma coluna saudável é mais eficientemente mantida se o assento da cadeira é levemente inclinado para a frente.
* O uso de uma superfície inclinada para escrever. Um ângulo de 20 graus é o mais confortável (Brown, 1989). Uma superfície inclinada melhora a posição do pulso, da cabeça e da mão em relação a superfície da escrita. A tensão também pode ser reduzida nesta posição.
* O tipo de instrumento a ser usado. Deve-se oferecer a criança vários lápis e canetas para ela escolher aquele com que se sente mais a vontade e está mais adequado ao seu estilo de escrever. Por exemplo, empunhaduras de diferentes formas e diâmetros, canetas com pontas de diferentes tipos.
* O estágio em que deve ser realizada a mudança do lápis para a caneta.
* O tamanho e o tipo de papel a ser usado e se ele deve ser ou não pautado. O número de linhas a ser usado. O espaço entre as linhas.
* A superfície na qual a criança escreve não deve ser dura demais. Por exemplo, a criança pode apoiar seu trabalho em um grande pedaço de papelão. A mesa ou carteira deve ser despojada.
* A posição em que a criança se senta. Deve-se ensinar a criança a adotar uma boa postura, com os pés apoiados no chão, as nádegas bem-apoiadas ao encosto da cadeira, os quadris levemente flexionados, as costas retas e a mão que não está escrevendo firmando o papel.
* A posição do papel. A criança destra deve ter o papel inclinado 10-20 graus para a direita e a mão que não está escrevendo deve ser colocada sobre o papel acima da mão que escreve. A criança canhota deve ter o papel inclinado para a esquerda em um ângulo de cerca de 30 graus. O canto superior direito deve estar alinhado com o umbigo da criança. A mão que não esta escrevendo deve ser colocada acima da mão que escreve. A mão que escreve deve ficar abaixo da linha da escrita, para que a criança possa enxergar as letras enquanto as escreve.
* É muito importante que as crianças canhotas sejam estimuladas a ficar com o seu papel corretamente posicionado toda vez que forem escrever, pois isso não vai restringir o braço que escreve enquanto ele se move em direção ao corpo à medida que vai preenchendo a página. É preciso lembrar-lhes que, enquanto escrevem devem mover o papel para cima, em vez de mover para baixo seu braço que escreve, mantendo assim a mão e o braço na posição adequada. Elas devem se sentar à esquerda de uma criança destra. Se a criança tem uma maneira curvada de segurar o lápis ou caneta, o papel deve ficar na posição destra.
* A empunhadura que a criança utiliza. A empunhadura considerada ideal é a do tripóide dinâmico (Schneck e Henderson, 1990). A fim de proporcionar uma empunhadura melhorada, um suporte adicional pode ser adaptado ao cabo do instrumento de escrever. Uma vez que a empunhadura esteja automatizada, o suporte adicional pode ser retirado.
* O ideal é que a fonte de luz esteja na frente da criança; à esquerda para o destro e à direita para o canhoto. Deve-se ensinar a criança a avaliar a importância desses princípios ergonômicos fundamentais.
domingo, 12 de julho de 2009
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