sábado, 12 de setembro de 2009

FALTA DE JEITO


Alguns disléxicos sofrem de um tipo particular de falta de jeito crônica chamada dispraxia. A dispraxia nem sempre vem associada à dislexia pois não afeta diretamente a leitura, a escrita, a ortografia ou a matemática. Ela se constitui numa das inúmeras facetas do dom da dislexia.
É provável que a frase "Ele não consegue andar e mascar chiclete ao mesmo tempo" tenha sido inventada para descrever uma pessoa severamente dispráxica. "Propenso a acidentes" é outra expressão comum para designar a dispraxia em nossa cultura. A mãe de uma criança me disse que seu filho "jamais conseguira ultrapassar o estágio em que uma criança comumente é desajeitada". Quando consideramos a percepção distorcida como sendo a raiz do problema, a dispraxia passa a ter sentido.
A dispraxia tem duas causas. Num primeiro caso, os sentidos de equilíbrio e de movimento estão distorcidos por causa da desorientação. Isto é óbvio, já que a desorientação pode causar a sensação de tonteira. Entretanto, a distorção na percepção pode ocorrer até mesmo quando a pessoa não está desorientada. Neste caso, isto acontece porque sua orientação natural não está no ponto ótimo. Mesmo quando as percepções deixam de estar distorcidas e se tornam consistentes por algum tempo, elas não são precisas.
Para melhor entender isto, considere as duas características fundamentais de uma orientação ótima: percepção consistente e percepção precisa. Se tivermos percepção consistente, mesmo que não seja precisa, podemos ser bem-sucedidos no aprendizado da leitura, da escrita, da ortografia e da matemática. A maioria das pessoas não-disléxicas possui percepção consistente por causa de sua orientação estável, enquanto que os disléxicos não a possuem.
Em relação a todos os sentidos, com exceção dos de equilíbrio e de movimento, um certo grau de imprecisão não afetará muito a habilidade da pessoa de ler, escutar, falar ou escrever. A pessoa que não tem ouvido musical não será capaz de cantar bem, mas pode levar adiante uma conversa sem problema. Uma pessoa daltônica não será capaz de realizar uma pintura realista, mas pode facilmente ler um artigo de jornal.
Entretanto, em se tratando dos sentidos de equilíbrio e de movimento, as distorções irão sempre causar algum grau de desajeitamento ou falta de jeito. A fonte primária de nossos sentidos de equilíbrio e de movimento são os órgãos vestibulares em nosso ouvido interno. Estes órgãos têm minúsculos pêlos "sensores de movimento", localizados em câmaras cheias de líquido que funcionam segundo um princípio similar ao de um nível de carpinteiro. Imagine pendurar alguns quadros na parede usando um nível que não esteja corretamente alinhado. Você vai acabar com uma parede cheia de quadros consistentemente tortos.
Os sentidos de equilíbrio e de movimento são regulados pela gravidade e pelo meio ambiente. No caso de disléxicos "nao-corrigidos" e que também são dispráxicos, a orientação que eles experimentam não lhes propicia uma percepção vestibular precisa, mesmo quando não estão desorientados. Qualquer distorção – ainda que consistente – dará à pessoa uma sensação incorreta do ambiente físico, o que se tornará óbvio em suas respostas físicas.
A dispraxia é compreensível porque, se os sentidos de equilíbrio e de movimento estiverem ou temporariamente distorcidos ou intrinsecamente imprecisos, nós provavelmente veremos um comportamento desajeitado ou estranho.
Todos os disléxicos, de vez em quando, experimentarão algum grau de dispraxia devido às desorientações. Esta condição assumirá uma forma crônica apenas em cerca de 10 a 15% das crianças disléxicas. Como outros aspectos da dislexia, a dispraxia varia em gravidade.

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