domingo, 22 de fevereiro de 2009

CLASSIFICAÇÃO DAS DISLEXIAS
As dislexias classificam-se em dois tipos: a dislexia de desenvolvimento e a dislexia adquirida. A primeira refere-se a alterações no aprendizado da leitura e escrita com origem institucional, ou seja, ambiental, referente a forma de aprendizado escolar. Nesses casos, ocorre diminuição da capacidade de leitura associada a disfunção cerebral, havendo uma alteração específica na aquisição das habilidades de leitura e conseqüente dificuldade no aprendizado da leitura. Existem autores que consideram fatores genéticos como uma das causas de dislexia de desenvolvimento. Já na dislexia adquirida, o aprendizado da leitura e da escrita, que foi adquirido normalmente, é perdido como resultado de uma lesão cerebral.
Vários são os fatores ainda em estudo que descrevem as causas da dislexia de desenvolvimento - entre eles, déficits cognitivos, fatores neurológicos (neuroanatómicos e neurofisioIógicos), prematuridade e baixo peso ao nascimento, influências genéticas e ambientais. Sabe-se, porém, que fatores externos (ambientais) não podem ser separados de problemas neurológicos, visto que aspectos tais como: instrução inadequada, distúrbios emocionais e pobreza de estímulos na infância podem causar diferenças no desenvolvimento neurológico e cognitivo que precedem dificuldades severas de leitura.
As dislexias podem ser divididas em dois tipos: central e periférica, conforme a tabela abaixo:
CLASSIFICAÇÃO DAS DISLEXIAS CENTRAIS E PERIFÉRICAS
Dislexia Características Clínicas Características neuroatômicas
DislexiaFonológica Incapacidade de decodificação fonológicaDanos na via de conversão grafema-fonema.Dificuldades em tarefas de memória fonológica. Desempenho muito ruim na leitura de estímulos não-familiares e pseudopalavras (palavras não-reais). Sabe-se muito pouco sobre as áreas neuroanatômicas essenciais para o funcionamento adequado do processamento perilexical, não havendo evidências de disfunções neuroanatômicas específicas.
Dislexia Superficial Comprometimento da via lexical. Os estímulos são lidos através do processo fonológico (“ex.: tóxico é lido tóchico”), havendo uma incapacidade no tratamento ortográfico da informação. Evidências de disfunção na região temporal média e póstero-superior do hemisfério esquerdo.
Dislexia Profunda Bloqueio na via não-Iexical.Ausência de leitura de não-palavras.Maior facilidade para leitura de palavras concretas e freqüentes. Alguns autores relatam à ocorrência de lesões múltiplas no hemisfério esquerdo, e outros sugerem que existam habilidades de leitura residuais no hemisfério direito devido à extensa lesão em hemisfério dominante.
Dislexiade Atenção Preservação da leitura de palavras isoladas. Dificuldades na leitura de vários itens quando apresentados simultaneamente. Lesões no lobo parietal esquerdo.
Dislexia de Negligência Dificuldades na leitura no campo visual do lado contra lateral ao da lesão cerebral. Lesão na região da artéria cerebral media do hemisfério direito envolvendo lobos frontal, temporal e parietal.
DislexiaLiteral(pura) Leitura letra por letra preservada Lesões occipitais inferiores extensas à esquerda

Na primeira, ocorre o comprometimento do processamento lingüístico dos estímulos, ou seja, alterações no processo de conversão da ortografia para fonologia. Na segunda, ocorre o comprometimento do sistema de análise vísuo-perceptiva para leitura, havendo prejuízos na compreensão do material lido.
Entre as dislexias centrais, ressaltam-se a fonológica, a de superfície e a profunda; já as dislexias periféricas incluem a dislexia atencional, a por negligência e a literal (pura).
Em relação às dislexias de desenvolvimento, as mais comuns são a dislexia fonológica e a de superfície, já mencionadas anteriormente, e a dislexia semântica. Esta se caracteriza pela preservação da leitura em voz alta, sem erros de decodificação (fonema-grafema), porém com pobreza na compreensão da escrita.
Várias pesquisas vêm fornecendo evidencias de déficits fonológicos em dislexias de desenvolvimento. No entanto, recentes estudos demonstraram a existência de múltiplos déficits de processamento temporal nas dislexias. De fato, disléxicos mostram anormalidades visuais e auditivas que podem resultar de problemas generalizados na percepção e na seleção de estímulos.
A dislexia, atualmente é compreendida como uma síndrome que não se apresenta de modo único, definido, em todos os sujeitos que são portadores desse transtorno. Entende-se que existem graus de dislexia, assim como, estabelecem-se classificações, entre elas à referida por Coll (1995) relativas às pesquisas de Boder e presentes em vários estudos:
· Dislexia disfonética: Relaciona-se aos aspectos auditivos. Dificuldades para estabelecer diferenciação na análise, síntese e discriminação de sons; dificuldades temporais referentes a percepção da sucessão e duração de sons. Trocas de fonemas e grafemas, alterações na ordem das letras e sílabas, omissões ou acréscimos, apresentando maior dificuldade com a escrita do que com a leitura. Observa-se também a substituição de palavras por sinônimos. Como esses sujeitos percebem as palavras de forma global podem efetuar trocas de palavras por outras semelhantes. (IAK, 2004, p. 41 )
· Dislexia deseidética: Caracterizada por dificuldades visuais. Disfunção na percepção gestáltica, na análise e síntese e dificuldades espaciais relacionadas à percepção das direções, da localização espacial e das relações de distância. Essas condições teriam como conseqüência uma leitura silabada, dificuldade em estabelecer sínteses, aglutinação ou fragmentação de sílabas e/ou palavras, troca por equivalentes fonéticos, apresentando uma dificuldade maior para a leitura do que para a escrita. (idem)
· Dislexia mista: Reunião dos sintomas anteriores. (ibidem)
Vale ressaltar que para vários autores, entre eles Ellis (1995), é mais freqüente em um quadro de dislexia que as alterações descritas se apresentem de modo combinado, sendo mais comum a dislexia aqui denominada como mista.
Crianças com dislexia apresentam alterações auditivas e visuais referentes à orientação espacial. Esses achados sugerem que déficits na atenção da seleção espacial podem desorganizar o desenvolvimento de representações fonológicas e ortográficas que são essenciais para o aprendizado da leitura.

COMO OBTER UM PRÉ-DIAGNÓSTICO DA DISLEXIA
O diagnóstico diferencial em Dislexia tem sido orientado pelos sintomas e sinais relatados anteriormente. Nos casos menos severos, os problemas só passam a ser percebidos como dificuldades significativas de aprendizado, em geral, pelo professor, tornando-se mais evidentes a partir do segundo ano do curso primário. Porém quando os níveis são muito tênues, correm a risco de não serem diagnosticados, embora, como adverte um especialista italiano, a falta do diagnóstico e da adequada assistência psicopedagógica a esse disléxico pode vir a agravar as suas dificuldades sociais e de aprendizado. E quanto mais graves ou severas se apresentem essas dificuldades, elas podem ser percebidas, como tendência ou risco, já a partir dos primeiros anos da vida escolar dessa criança, por seus pais, especialmente por sua mãe, e por seu professor.
A advertência de especialistas com base em estudos conclusivos mais recentes é de que, algumas crianças apresentam sinais característicos e passam a receber efetivo treinamento fonológico, já a partir do jardim de infância e no primeiro ano primário. Elas apresentarão significativamente menos problemas no aprendizado da leitura comparado as outras crianças disléxicas que não sejam identificadas nem devidamente assistidas ate o terceiro ano primário.
Por isso, a dislexia não se caracteriza por dificuldades específicas de grupo, mas em combinações e níveis individuais de facilidades e dificuldades de aprendizado; e porque em Dislexia estão envolvidos fatores que requerem a leitura de profissionais de diferentes áreas da Educação e da Saúde com especialização efetiva, esse diagnóstico diferencial requer a avaliação de equipe multidisciplinar para ser equacionado.
Especialistas também esclarecem que o diagnóstico diferencial e o treinamento remediativo para o disléxico adulto devem seguir orientação idêntica àquela que é adequada a criança e ao jovem disléxico.
O professor com formação ou informação efetiva em dificuldades de aprendizado pode tornar-se canalizador do encaminhamento de providências junto ao aluno disléxico, poderá tomar providências aos pais dessa criança e de atuar como mediador entre as familiares e as diferentes profissionais que participem dessa avaliação diagnóstica.
A dislexia persiste apesar da boa escolaridade. É necessário que pais, professores e educadores estejam cientes de que um alto número de crianças sofre de dislexia. Caso contrário, eles confundirão dislexia com preguiça ou má disciplina. É normal que crianças disléxicas expressem sua frustração por meio de mal-comportamento dentro e fora da sala de aula. Portanto, pais e educadores devem saber identificar os sinais que indicam que uma criança é disléxica - e não preguiçosa pouco inteligente ou de comportamento inadequado.
A dislexia não deve ser motivo de vergonha para crianças que sofrem dela ou para seus pais. Dislexia não significa falta de inteligência e não é um indicativo de futuras dificuldades acadêmicas e profissionais. A dislexia, principalmente quando tratada, não implica em falta de sucesso no futuro.
Nunca é tarde demais para ensinar disléxico a ler e a processar informações com mais eficiência. Entretanto, diferente da fala, que qualquer criança acaba adquirindo, a leitura precisa ser ensinada. Utilizando métodos adequados de tratamento e com muita atenção e carinho, a dislexia pode ser derrotada. Crianças disléxicas que receberam tratamento desde cedo apresentam uma menor dificuldade ao aprender a ler. Isso evita com que a criança se atrase na escola ou passe a desgostar de estudar.
A Dislexia não se trata de um problema que é superado com o tempo; ela não pode passar despercebida. Pais e professores devem se esforçar para identificar a possibilidade de seus filhos ou alunos sofrerem de dislexia. Crianças disléxicas que foram tratadas desde cedo superam o problema e passam a se assemelhar àquelas que nunca tiveram qualquer dificuldade de aprendizado.
Foram desenvolvidos diversos programas para tratar a dislexia. Contudo, a maioria dos tratamentos enfatiza a assimilação de fonemas, o desenvolvimento do vocabulário, a melhoria da compreensão e fluência na leitura. Esses tratamentos ajudam o disléxico a reconhecer sons, sílabas, palavras e, por fim, frases. É aconselhável que a criança disléxica leia em voz alta com um adulto para que ele possa corrigi-Ia. É importante saber que ajudar disléxicos a melhorar sua leitura e muito trabalhoso e exige muita atenção e repetição. Mas um bom tratamento certamente rende bons resultados. Alguns estudos sugerem que um tratamento adequado, tendo seu início cedo na vida escolar de uma criança, pode corrigir as falhas nas conexões cerebrais ao ponto que elas desapareçam por completo.
Apesar das salas de aula estar lotadas e apesar da falta de recursos para pesquisas, a dislexia precisa ser combatida. Muitos casos de dislexia passam despercebidos em nossas escolas. Muitas vezes, crianças inteligentíssimas, mas que sofrem de dislexia, aparentam ser péssimos alunos; muitas dessas crianças se envergonham de suas dificuldades acadêmicas, abandonam a escola e se isolam de amigos e familiares. Muitos pais, por falta de conhecimento, se envergonham de ter um filho disléxico e evitam tratar do problema. Isso é lamentável, pois crianças disléxicas que recebem um tratamento apropriado podem não apenas superar essa dificuldade, mas até utilizá-la como benefício para se sobressair pessoal e profissionalmente.

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